6 de dezembro de 2017

O que é arte?


Há tanta polêmica sobre o assunto hoje em dia que resolvi também dar minha opinião. Um museu expõe um homem nu interagindo com crianças e, quando a “obra” é criticada, os defensores acusam esses críticos de não entenderem nada de arte.

No entanto, não há uma definição clara sobre o que é arte. Na antiguidade, foi criada uma divisão das artes em tipos de acordo com suas aplicações. Assim, a primeira arte seria a música, que explora o som; a segunda, o teatro, incluindo aí a dança, por explorar o movimento,; a terceira,  a pintura, que explora a cor; a quarta, a escultura, explorando o volume; a quinta, a arquitetura e a exploração do espaço; e, por fim, a sexta, a literatura, exploradora da palavra.

No século passado, Riccioto Canudo escreveu um manifesto e atribuiu ao cinema o status de “sétima arte”, por agrupar diversos aspectos das demais. Daí por diante, novas classificações enumeram a oitava arte como sendo a fotografia; a nona, os quadrinhos; a décima, os jogos de computador; e a décima primeira, a arte digital. Não vamos entrar no mérito do valor dessas classificações. Deixemos isso para outro artigo.

Mas o que define a arte? Se for somente a exploração da cor, do som, do movimento, do espaço, do volume e da palavra, então tudo é arte. Nosso caminhar, nossas conversas, uma ata de reunião, a rua, uma árvore, enfim, tudo que tenha cor, som, movimento, palavras, volume e espaço.

“Tudo é arte”. Essa frase é repetida como mantra por alguns que defendem formas “incompreendidas” de arte. Marcel Duchamp, ao apresentar ao mundo sua polêmica “Fonte”, abriu a discussão sobre o que é e o que não é arte. A questão é: tudo “é” arte, ou tudo “pode ser” arte?

Se excluirmos os usos metafóricos da palavra arte (a arte da guerra, a arte de conquistar clientes, a arte de ser popular, aquela criança fez arte, etc.) o dicionário traz, entre outras definições, a seguinte:

“Produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana.”

É uma definição bastante vaga e, por isso mesmo, limitada, que exige complementos e explicações. Como não há uma versão definitiva e inquestionável sobre “o que vem a ser arte”, então a discussão “tudo é” versus “tudo pode ser” continua gerando polêmica e discussões. Por exemplo, como fica a dança nessa definição, se a dança não é obra, nem forma, nem objeto? A produção é arte, mas o produto, não?

Eu venho dar minha contribuição na tentativa de ajudar a conceituar algo tão abstrato como arte e separar o joio do trigo.

Se é difícil criar um conceito, sigamos no sentido contrário e tentemos identificar o que há de comum naquilo que consideramos arte e naquilo que desprezamos como lixo. Na região nebulosa entre esses extremos ficam as tentativas de se criar arte, a arte ruim, e outras produções questionáveis.

Para começar, a arte tem de ser intencional. Os rabiscos de uma criança numa folha de papel não é arte. As manchas de tinta num avental não constituem arte.

A arte tem que provocar algum reflexo no senso estético do observador. Ela é feita para ser vista, ouvida ou sentida de alguma forma e provocar algum tipo de sentimento no receptor. Esse efeito não precisa, necessariamente, ser a beleza como reflexo primário da obra. Uma foto de uma pessoa feia pode causar reações negativas, desgosto, nojo… Mas, indiretamente, a beleza está na capacidade do artista em captar a iluminação que realça as rugas, em mostrar um sorriso em meio à miséria, em denunciar o sofrimento a quem vive numa ilha de conforto. A beleza está em causar a emoção no público, levar a várias interpretações, propor o questionamento, desde que isso tudo, como já disse, seja intencional. Assim, uma gravura de uma lata de sopa de tomate, um bidê autografado e denominado “A Fonte”, ou um desenho de uma praça cheia de bandeirinhas de São João são formas de arte. Um homem nu se expondo numa sala, não.

Em todo caso, a arte é um trabalho. E, como tal, exige um esforço do artista. Se não um esforço físico, como uma escultura de Davi em mármore, pelo menos o esforço intelectual de chamar o bidê de fonte para provocar questionamento ou reflexão. Quando não há esforço laboral nem cognitivo na produção da arte, como uma pichação ou um mero respingar de tinta numa tela, então não é arte.

Pode acontecer de a arte não ser reconhecida como tal por estar fora de contexto ou exposta ao público errado. A arte nem sempre é universal. Pode exigir explicações. Quando se expõe diversas obras das mais variadas origens e formas, expondo relações sexuais homoafetivas, com animais ou violentas para menores de idade e sem contextualização, então dois erros foram cometidos: público errado e falta de explicação. Nesse caso, o que era arte deixa de sê-lo. Vira zona.

Podemos dizer que transformar uma latinha de refrigerante numa lamparina, um tricô, um crochê, uma renda, ou uma campanha publicitária bela e emocionante são trabalhos que possuem mais teor artístico do que muito daquilo que é exposto em galerias, mesmo que não sejam chamados de arte.

Não basta dizer que é arte. É preciso reunir essas características:

·         Esforço consciente;
·         Possuir atributos de beleza de forma direta ou indireta;
·         Promover a crítica, a reflexão ou a admiração;
·         Estar inserida num contexto;
·         Ser destinada ao público correto.

Vejamos se, com isso, podemos resumir a arte numa definição única.

“Arte é o produto ou execução de um esforço consciente do artista na intenção de transmitir uma reação no senso estético de uma plateia adequada e dentro de um contexto claro, promovendo a crítica, a reflexão ou a admiração da obra.”

Essa definição parece evitar algumas falhas da definição anterior, e não tenho a pretensão de tomá-la como definitiva. Estou aberto a comentários, questionamentos e sugestões.


O que você considera arte? Se encaixa nessa definição?

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